Coluna Museu do Surfe, de Diniz Iozzi e Gabriel Pierin, apresenta história de Luiz Sala, conhecido como DJ Feio, que uniu surfe e som eletrônico.
[gallery td_select_gallery_slide="slide" ids="3654828,3654823,3654825,3654824,3654831,3654830,3654827,3654829,3654826"] A origem do povo brasileiro é marcada pela confluência de etnias e culturas dos povos originários, europeus, africanos e asiáticos, que se misturaram ao longo dos séculos para formar a identidade tropical, que o antropólogo Darcy Ribeiro chamou de novos romanos, uma nação destinada a um papel importante no futuro da humanidade. Um exemplo dessa miscigenação entre povos está na família Sala. Luiz Guilherme é bisneto materno de indígenas com portugueses e espanhóis, e de imigrantes italianos por parte de pai. Filho do paulistano e cinegrafista da extinta TV Tupi, Guilherme Sala, e da vicentina Nilza Fernandes, Luiz nasceu em São Paulo no primeiro dia do mês de junho de 1957. Foi em São Vicente (SP), o primeiro núcleo de colonização europeia no Brasil, que Luiz cresceu. A intimidade com o mar começou muito cedo. Luiz acompanhava parte da família puxando a rede nas noites de pesca no mar do Itararé. Um ritual que se seguia com seu pai noite adentro para pegar siri na prainha próxima à Ponte Pensil. A infância na rua Jacob Emerick, perto da antiga fábrica de vidro, foi interrompida, quando a família se mudou para São Paulo, por volta de 1964, onde Luiz estudou no Colégio Claretiano e Administração na FMU. Na capital, formou sua turma em torno do Gimba, uma lanchonete conhecida dos anos 1970 e 80, localizada na Faria Lima, e também no Floresta, Manga Rosa, Rose Bom Bom e Allure. Nesses picos da cultura paulistana, Luiz se encontrava com Cinira Arruda, Zecão, Testa, Kiko, Jayminho, Walter, os irmãos Arambasic, Dadá, Rony Carrari, Peninha, Calmon, Taiu, Paulo Esmeralda, irmãos Christian e Dodô von Sidow, Egas, Dragão, Thyola, Serginho Natividade, Guloseima, Supla, entre outros. Antes disso, Luiz já tinha se encantado com as ondas. As primeiras brincadeiras foram sobre sua pranchinha de madeira, no Itararé, onde descia as ondas de peito, até a chegada da Planondas de isopor. Os surfistas estavam no outside, mas perto suficiente para o garoto sonhar em dropar as ondas de pé. Por volta de 1970, a vontade de surfar era maior que a distância da casa da avó e o peso da prancha Longa Surfboards até a Ilha Porchat. Ele e o primo revezavam a velha e pesada prancha shapeada pelo lendário Longarina até o dia que Luiz conseguiu dinheiro com a mãe e escondido do pai encomendou com o Guto da Maui Surfboards sua primeira prancha: uma monoquilha 6’3 roxa e amarela, em julho de 1973. Era o início de uma trajetória sem fim. Foi nessa época que o apelido Feio pegou. A família tinha um apartamento no Edifício Lido, no Gonzaga, e desciam todos os finais de semana para a praia. Luiz Feio surfava na Divisa e quando acabava o dia, todos os surfistas voltavam juntos em direção aos canais, entre eles os irmãos Albano, Luiz e Marcos Tubo, Cisco, Gerson Carife, Luiz Neguinho, Akira, Silvério, Bulina, Caveira, Jacuí, Batefino, Victor Catatau. As surftrips atravessaram de balsa para o Guarujá e Luiz junto com a família Cangiano e a galera dos Canais 5, 6 e 7 surfavam as ondas da praia do Pernambuco, e outras vezes seguiram para Cambury, Maresias e Ubatuba, tornando-o um verdadeiro bandeirante do surfe. Quando descobriram as ondas grandes do Sul do Brasil, as barcas passaram a contar com o apoio do seu pai, Guilherme, para Imbituba, Laguna e Farol de Santa Marta, dividindo barracas e até um quarto de um local. O surfe de Luiz Feio cresceu e chamou a atenção de patrocinadores, marcas como Acqua, Kaluama, Invicta, Cristal Graffiti, Linden. Luiz Feio foi o primeiro brasileiro campeão em ondas internacionais, ao vencer um Campeonato Internacional no Peru, em La Pambilla, em dezembro de 1979. Ao longo da carreira, Luiz Sala, o Feio, contou com o patrocínio de marcas importantes. Com a Hang Loose participou de etapas do Circuito Mundial na Austrália, África do Sul, Califórnia e no Havaí. Ele também recebeu apoio da Tropical Brasil, Honda Way, da South African Airways e da Dhemy Moda Jovem, de Santos. O surfista também foi designer na Hang Loose, Local Motion e na havaiana Da Hui, que lhe permitiu viajar pelo mundo e surfar em diversos picos internacionais. Depois disso, Luiz, que é pai de Maria Luiza, se dedicou a outra paixão: a música. Ele criou as trilhas sonoras dos vídeos da Hang Loose que marcaram o retorno do Campeonato Mundial à praia da Joaquina, em Santa Catarina, em 1986. O surfista, e agora DJ e produtor, também foi responsável, durante oito anos, pelo programa de rádio Surf x Press, transmitido pela 97FM de Santo André, onde unia música, surfe, skate, windglider e até slotcar, o autorama competitivo. A música eletrônica entrou em cena nos anos 1980. Viajando pelo mundo para surfar, Sala trazia discos de artistas estrangeiros que ainda não haviam chegado ao Brasil. A novidade o levou ao rádio, inicialmente a convite de Paulo Lima, fundador da revista Trip. Logo depois, com a saída de Lima, assumiu seu próprio programa, consolidando-se como voz da cena alternativa. Em 1993 começou a atuar como DJ Feio, primeiro com Eurotrance e depois com Psychedelic Trance. Três anos depois, em 1996, ao lado de Rica Amaral, foi co-criador da XXXperience, um dos maiores festivais itinerantes de música eletrônica nos moldes de uma rave do Brasil. O projeto nasceu no Bar do Meio, em Maresias, e logo percorreu todo o país. O XXXperience teve sua maior edição em Itu, no interior paulista, em 2009, quando reuniu mais de 30 mil pessoas. No início dos anos 2000 criou o projeto Salla. Nesse projeto, o DJ vincula Indie Dance aos estilos Afro-House, Club-Dance, Melodic e Progressive House, sem abandonar sua essência no New Wave e no Rock dos anos 1980 e 90. Ao longo da trajetória, influências musicais do surfe internacional — Austrália, Havaí, Califórnia — se somaram às suas diversas experiências como DJ profissional na Alemanha, França, Áustria, Japão e Israel. Hoje, Luiz Sala segue ativo na música. Sediado em São Paulo, ele celebra a cultura paulistana que ajudou a moldá-lo. Nesse último domingo, 17, o DJ Feio se apresentou em Santos no Hideout Fizz, onde encontrou seus amigos Gerson Carife, Jacuí, Silvério, Picuruta, entre outros, parte de sua história com o surfe e com a cidade. Acompanhe nossas publicações nas redes sociais @museudosurfesantos. Coordenador de pesquisas históricas do surfe @diniziozzi – o Pardhal.source https://www.waves.com.br/cobertura-especial/guia-de-pranchas-e-equipamentos/biquilha-em-teste-slater-na-linha-em-j-bay/
Comentários
Postar um comentário