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Em conversa com Waves, tricampeão mundial de longboard Phil Rajzman conta detalhes de como surfe ajudou a vencer câncer.

Phil Rajzman[caption id="attachment_3624611" align="alignnone" width="696"] [media-credit name="Yuri Mendes" align="alignnone" width="696"][/media-credit] Phil Rajzman supera câncer e volta com tudo.[/caption] No fim de 2023, o tricampeão mundial de longboard, Phil Rajzman, começou a sentir dificuldades na digestão. Os alimentos não caíam bem, e ele achou que fosse uma gastrite. No entanto, na semana do Natal daquele ano, sentiu-se muito mal e já não conseguia mais se alimentar. Foi aí que Phil apalpou o estômago e sentiu uma bola. Preocupado, procurou um médico. Devido à urgência, realizou uma série de exames, mas estava no Havaí, onde o sistema de saúde é mais lento. Como já tinha uma viagem marcada com a família (esposa e filhas) para o dia 1º de janeiro para a Austrália, o médico sugeriu que cancelasse a viagem e retornasse ao Brasil. Phil chegou ao Rio de Janeiro e foi internado imediatamente. Ficou uma semana no hospital e iniciou uma série de exames. No iníncio da primeira semana, o resultado da biópsia trouxe um choque: um tumor de 15 centímetros na parede do abdômen, já expandindo-se para a parte externa do sistema digestivo e pressionando a parede do intestino. O diagnóstico foi de câncer, mais especificamente, Linfoma não Hodgkin. Logo após a descoberta Phil iniciou o tratamento de imediato. O longboarder decidiu que somente a família e algumas pessoas próximas saberiam sobre a doença. Segundo Phil, essa decisão visava evitar opiniões divergentes, receios e lamentações. Assim, conseguiu manter a mente sã e focada no objetivo final. Após seis meses de quimioterapia, com seis sessões intensas a cada 21 dias, Rajzman realizou exames em junho de 2024. Para sua surpresa, os resultados indicaram cura completa. Nenhuma doença foi detectada, e o câncer havia desaparecido por completo. Retorno às competições - No final de outubro de 2024 rolou o Tunel Crew Shootout, na Praia de Itacoatiara, Niterói (RJ), e Phil foi um dos convidados. Ele separou as pranchas e saiu de Búzios amarradão e pensando como seria o primeiro campeonato na nova da minha vida. A ondulação aguardada havia chegado e lá esatava ele de volta às competições e revendo grandes amigos. Phil entrou na competição sem pretensão, onde queria apenas cair no mar, mas fez mais que isso e conseguiu o segundo lugar. Raoni Monteiro foi o campeão. No fim da temporada de 2024, Phil também correu o tradicional Haleiwa International Open, realizado no Havaí, e levantou o caneco. [caption id="attachment_3624613" align="alignnone" width="1000"] [media-credit id=6763 align="alignnone" width="1000"][/media-credit] Phil comemora segundo lugar em Niterói (RJ).[/caption] O Waves bateu um papo com o Phil que contou alguns detalhes da recuperação, resiliência mental, volta ao mar, competições e mais. Confira! Como foi o processo para voltar a surfar? Você precisou lidar com a questão mental? Como se sentiu depois de recuperado? Procurei ao máximo durante o tratamento me manter ativo. Por mais que todas as dificuldades físicas, até mental de estar muito estressado emocionalmente, o contato com a natureza e o surfe, apesar da falta de energia, era o que me trazia equilíbrio, que me trazia paz. Era o que me dava energia e força para estar vivendo aquele momento sem permitir que a minha mente me levasse para um lado de pensamentos negativos. O surfe foi fundamental para me manter de uma certa forma ativo. E foi uma época que, por estar muito em casa, em Búzios, procurei treinar alguns adolescentes que frequenta a Praia de Geribá, pertinho da minha casa. Era uma maneira de eu estar ali envolvido, me manter envolvido com o surfe, vendo a evolução dessa molecada. Entrava no mar junto com eles às vezes, com o pé de pato, e ficava lá dentro boiando, pegando umas ondas de peito. Quando o mar estava menor eu surfava, tentava entrar no mar com as minhas pranchas e conseguia pegar algumas ondinhas. Mas sempre com uma energia muito baixa. Não conseguia ter um rendimento normal. Era um rendimento que eu estava ali mais fazendo um sacrifício físico, o que me ajudava mentalmente e minha médica me indicou, falou que isso seria muito positivo para o meu corpo. Eu usava essa mente de atleta para, apesar da dificuldade física, me manter nessa energia que me trazia tanta paz e equilíbrio. Era um ciclo, a cada sessão minha eu tomava aquela quimioterapia que chamamos laranja, que é a mais forte, e aí eu tinha 20 dias de descanso. A primeira semana era muito complicada, era muito enjoo, muita falta de energia física mesmo, muita dificuldade de levantar da cama. Eu ia para a praia e ficava só ajudando as crianças a treinarem, a molecadinha local ali de Geribá, mexer na minha horta... Enfim, ficava em contato com a natureza o máximo possível. E isso foi muito importante para minha recuperação, para não ter uma perda de massa muscular tão grande, para me manter inclusive com apetite e me alimentando bem. O esporte com certeza foi um caminho de luz nesse processo de cura. Quando cheguei na última semana, já me sentia um pouco mais de energia, já conseguia estar surfando. Eram 14 dias fazendo as atividades, me esforçando bastante e aí tinha uma semana, sete dias, um pouco mais de energia, que eu conseguia estar, de fato, com uma frequência maior dentro da água. Quando todo esse processo passou, já estava me preparando para poder fazer o transplante de medula, que era o que estava previsto para ser feito e eu tive a excelente notícia de que eu não ia precisar mais fazer o transplante, que já estava curado e e iria continuar só com a imunoterapia. O processo é uma garantia de que pelos próximos dois anos, a cada dois meses, eu preciso tomar essa imunoterapia, uma quimioterapia mais leve, para garantir que não voltar o câncer. Isso foi uma maravilha, foi uma notícia perfeita. O que me deu muito ânimo, muito prazer de estar voltando para o mar e com frequência poder retornar aos treinos, de fazer o que eu amo fazer. Logo na sequência já tive a oportunidade de participar do Tunel Crew que foi um evento em Niterói. Evento que eu já tinha participado anteriormente. Nos outros anos que havia sido convidado, eu estava no Havaí, infelizmente não tive como participar. Mas foi uma oportunidade muito boa de estar voltando a uma competição, voltando a sentir aquela sensação de estar com os amigos, competindo, aprendendo, trocando informação, vendo equipamentos. E eu fui passando as baterias, fui encontrando as ondas, tirando os tubos. Acabei tirando esse vice-campeonato, me dando essa energia a mais, essa força mais. Aí eu estou bem, aos poucos consigo me recupera a parte física, essa parte competitiva. [caption id="attachment_3624615" align="alignnone" width="696"] [media-credit id=6763 align="alignnone" width="696"][/media-credit] Phil Rajzman e filha Coral durante evento em Haleiwa, Havaí.[/caption] Você atualmente está no Havaí, e como está a frequência de treinos por aí? Qual a praia favorita da ilha havaiana? Eu cheguei no Havaí e foi muito bom sentir novamente essa sensação de estar aqui no lugar onde o surfe começou, é um lugar em que me inspirei tanto na minha vida. Minha primeira competição internacional, minha primeira viagem internacional foi para cá, muito novo ainda, com 14 anos, junto com o Rico de Sousa. Aqui no Havaí já encontrei muitos amigos, tive a oportunidade de participar de alguns eventos, entre eles um dos mais tradicionais do mundo, que é o Haleiwa International Open, que já acontece há 53 anos, e mais uma vez, apesar de não estar ainda 100% do meu físico, consegui me superar e ganhar o campeonato, trazer mais um título para o Brasil. Um título inédito para a minha carreira. Tenho dado muita aula de surfe aqui, muitos Experiences estão acontecendo. Tanto de brasileiros que tem vindo passear para cá, quanto turistas. Estou morando atualmente em Waikiki e que no inverno as ondas são bem pequinhas, são ideais para aprender a surfar. Nas minhas aulas, gosto de contar um pouco sobre a história do surf, falar sobre cada praia e compartilhar as experiências que vivo com essa galera. Acredito que essa parte cultural é fundamental, afinal, estamos na terra de Duke Kahanamoku, o pai do surfe moderno. É uma honra dar aulas em Waikiki, bem em frente à estátua de Duke, ensinando os iniciantes. No North Shore, atendo um público mais avançado, ajudando no desenvolvimento técnico e ensinando a lidar com ondas maiores, entender as correntes e as nuances do mar. Essas experiências são enriquecedoras para mim, pois além de serem um treino constante, me permitem compartilhar meus conhecimentos e aprender com as dúvidas dos alunos. Muitas vezes, ao tentar explicar algo, sou levado a pensar em novas perspectivas, o que amplia minha própria compreensão sobre o surfe. [caption id="attachment_3624612" align="alignnone" width="696"] [media-credit id=6763 align="alignnone" width="696"][/media-credit] Phil comemora bom desempenho depois de sair do mar.[/caption] Quais são os seus planos para o futuro? Tanto no âmbito pessoal quanto profissional? Os meus planos para o futuro, gostaria muito de voltar a dedicar minha vida totalmente ao surfe, de fechar novos contratos, de ter patrocinadores que me proporcionem essa possibilidade. Paralelamente a isso, sempre estou envolvido com o surfe através das minhas pranchas que tenho produzido, que têm feito muito sucesso aqui no Havaí e no Brasil. E eu tenho gostado muito desse processo de desenvolvimento constante, que desde que comecei esse trabalho de desenvolvimento de equipamentos com a Robe, em 2007, até hoje continua me motivando a estar na água, testar equipamentos e entender como funciona em cada condição. Além disso, as aulas de surfe, como já citei anteriormente, me deixam muito feliz. A gente está vendo as pessoas aprenderem, sentirem aquela sensação. E aqui, como as condições são sempre muito favoráveis, a gente pega uma prancha, quando a pessoa é mais velha, tem alguma dificuldade ou nunca surfou na vida, nunca viu o mar. Acontece muito. Tem gente do mundo inteiro aqui que nunca viu o mar. E aí tem uma prancha, umas pranchas bem grandes, de 12 pés, que são muito estáveis, muito fáceis das pessoas conseguirem ficar em pé e sentirem aquela sensação como se fosse um barco. Quando ele pega onda pequenininha, perfeita, ele tem bastante estabilidade e dá pra praticamente qualquer pessoa pegar a onda, basta querer. É muito legal. Então, o meu objetivo é passar um período aqui no Havaí, praticamente o ano inteiro, já que estou no meu tratamento de imunoterapia, que acontece a cada dois meses. A cada dois meses, eu vou estar voltando para o Brasil e buscando conciliar essas voltas com competições, clínicas de surfe e a produção das minhas pranchas. O período aqui no Havaí será dedicado a aulas e outras atividades relacionadas ao surfe, enquanto no Brasil, vou me dedicar a outras partes do meu trabalho. Dessa vez, quero incluir novamente as competições, pois sinto que elas me dão muita motivação e foram importantes para minha recuperação. Entendi o quanto o aspecto mental é importante para me manter ativo e acredito ter potencial para voltar ao circuito mundial e conquistar um novo título mundial para o Brasil. Para isso, não vai faltar dedicação, vontade e amor pelo surfe e pelo longboard.  

source https://www.waves.com.br/cobertura-especial/guia-de-pranchas-e-equipamentos/riding-a-dream-historia-de-amor-pelo-surfe/

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