Recentemente, um derramamento de petróleo no Mar Mediterrâneo ocasionou o fechamento de várias praias em Israel e deixou muitos animais marinhos mortos.
A cada notícia como essa, a busca por produtos sustentáveis – que não necessitam de algum derivado do petróleo – tende a aumentar. Bom, estamos vivendo uma era de explosão na fabricação de carros elétricos, passo que considero essencial para uma real conscientização ecológica no mundo.
No nosso meio do surfe, recentemente aconteceram dois atos super importantes: a WSL lançou a WSL Pure, um manifesto em proteção aos oceanos, e John John Florence inaugurou uma marca própria com foco na sustentabilidade.
Mas o buraco ainda é mais embaixo. Lembramos que, em 2005, a mega fábrica de blocos de poliuretano Clark Foam fechou suas portas na Califórnia (EUA) por conta de um produto químico muito violento, o TDI (agente expansor do poliuretano).
Conheci pela primeira vez a resina vegetal por conta do fechamento desta fábrica, quand tive acesso à informação que já estavam desenvolvendo uma resina deste tipo.
O primeiro o boom mundial do EPS (isopor) aconteceu em 1990. Tom Curren, maior formador de opinião do esporte na época, foi tricampeão mundial com sua 6’0” epóxi fabricada por Maurice Cole. No ano seguinte, os principais surfistas do mundo já estavam todos com essas pranchas. Tive o privilégio de viver este momento tão especial no surfe, mas poderia ter sido um adeus às pranchas mais químicas.
Nesta época, o TDI já poderia ter sido eliminado do meio do surfe. Mas uma mudança não aconteceu por conta de um mercado com pouco interesse. As pranchas EPS e epóxi não eram exatamente ecológicas, mas eram muito menos danosas ao meio ambiente, sendo o EPS possível de ser reciclado.
Mas alguns movimentos em direção à conscientização ecológica já começam a ser tomados em algumas partes do Planeta. Para o ano que vem, teremos mais uma etapa que considero importante, na mesma linha que houve em 2005 com o PU na Califórnia.
A Austrália estuda banir o EPS de seu mercado, por se tratar de um plástico, e isso inclui as pranchas de surfe. Não se sabe ao certo se o problema é o plástico ou a entrada de muitas pranchas vindas da Ásia feitas em EPS.
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Sou o pioneiro do EPS no Brasil. No começo dos anos 90, eu já mandava de volta todo lixo de EPS para ser reciclado na fábrica. Depois de anos, consegui desenvolver um processo de construção de blocos para shaper super ecológico, impossível de serem feitos com PU. Em 2007, construí uma fábrica onde todo lixo da prancha era reciclado.
Percebo que o mercado não se importa muito com isso. Os principais formadores de opinião do meio se calam ou ignoram algumas descobertas / pesquisas, que vão contribuir em benefício do Planeta. Se também tivéssemos profissionais do esporte conscientes, ambientalmente falando, poderíamos avançar muito mais nesta área.
Acho importante lembrar que no surfe temos quatro produtos derivados do petróleo, são eles: PU, EPS, resina poliéster e resina epóxi:
PU – O grande problema deste produto é seu agente expansor, o TDI, que após expandido contém matéria e gás, precisando assim de máscara de carvão ativado.
EPS – São pérolas ocas de estireno, que após 90 graus se expandem e ficam com 98% de ar, bastando uma máscara que protege da poeira para ser trabalhado pelo shaper.
Resina poliéster – líquido inflamável perigoso para a saúde humana e para o meio ambiente.
Resina epóxi – Tem baixo nível de toxidade, porém contém o BPA, que ao consumir vira estrógeno sintético e pode provocar câncer e infertilidade.
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Fechei a minha fábrica de pranchas em 2012, era muito ecológica para a época e isso tem custo. O mercado não valorizava.
O mercado do surfe já tem boas opções, como a parafina biodegradável, protetor solar que não agride os corais, quilhas feitas com plástico do oceano, dentre outros. No meu caso em especifico, entrei de cabeça para substituir as resinas químicas por uma vegetal. Precisei de toda a minha experiência para poder achar as respostas para os problemas que ela apresentou. Foram três anos investindo neste processo.
Uma coisa muito importante que notei foi a necessidade de utilizar o EPS que não seja reject. Sempre utilizei nas minhas pranchas blocos de EPS perfeitos. Isso para obter uma prancha laminada com resina vegetal leve e forte.
Não tenho a pretensão de shapear as pranchas dos principais surfistas profissionais do Brasil, pois respeito seus respectivos designs, mas me sentiria honrado se eles pelo menos experimentassem esta resina vegetal, pois isso com certeza ajudaria o Planeta.
Para finalizar, sou o único fabricante de pranchas que está envolvido nas duas principais mudanças de materiais no mundo. Primeiro dentro da Project Surfboards, na França, nos anos de 89, 90 e 91, com as pranchas em epóxi. Agora, no Brasil, com a resina vegetal.
Conheça mais sobre o trabalho de Mario Ferminio no Instagram @folhabyferminio.
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