Nos últimos anos, a geração Brazilian Storm levou o Brasil ao topo do esporte no surfe masculino. Entre as mulheres, ainda não temos uma campeã mundial. Mas, se depender da carioca Mariana Areno, 17, o tempo também pode fechar no Championship Tour feminino da WSL em um futuro breve.
Quem rema pelas valas do Posto 5 da Praia da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, já sabe que o relâmpago vem a bordo de uma prancha 5’5, com rabeta squash. Dona de uma linha veloz e agressiva, Mariana mistura fluidez, radicalidade e sorrisos largos como os arcos de suas rasgadas.
Vice-campeã Pro Junior do circuito nacional da Associação Brasileira de Surf Profissional (Abrasp) em 2019, a carioca desponta como uma das grandes promessas da nova geração do surfe feminino no País. No mesmo ano, integrou a equipe que representou o Brasil no Mundial Sub 16 da ISA em Huntington Beach, Califórnia (EUA). Também foi campeã estadual Sub 16 no Rio de Janeiro.
Com as competições em pausa por conta da pandemia de Covid-19, ela segue treinando em alta voltagem. E sabe onde mirar. “Acho o estilo da Stephanie Gilmore lindo. Mas a Tyler (Wright) não tem medo, vem a junção e ela dá!”, compara.
Em busca do sonho de integrar a elite mundial e se tornar a primeira campeã mundial brasileira no surfe feminino, Mariana revela ao Waves um pouco de sua trajetória, suas ambições e cobra mais apoio para as meninas da nova geração. Confira na entrevista!
Mariana, você começou a surfar bem cedo. Como foram os seus primeiros passos no esporte?
Comecei a surfar desde pequenininha por influência do meu pai e meu irmão, seis anos mais velho. Eles faziam trips de surfe e eu me dedicava bastante para chegar em um nível em que pudesse viajar com eles. Porque no começo eu ficava de fora! Estar sempre com eles na praia acabou gerando essa paixão pelo esporte.
Como foi lidar com a pausa nas competições, já que você vinha em ritmo acelerado?
No começo foi bem difícil, mas com o tempo fui me adaptando e fazendo treinos em casa e com o meu coach. Estou no mesmo foco, me mantendo preparada apesar de o calendário estar muito incerto. Treino o físico, o mental, estou sempre dentro da água. Quando voltarem as competições, vou estar pronta.
E quais são os planos para quando tudo voltar ao normal?
Vou fazer 18 anos e estou em transição do amador para o profissional. Tenho o meu último ano do Pro Junior brasileiro e tenho em mente disputar o Pro Junior sul-americano da WSL também, mas ainda aguardo a confirmação das etapas. Também quero começar a correr o brasileiro profissional da Confederação Brasileira de Surf (CBSurf).
Quais são os surfistas profissionais que mais te inspiram?
Gosto muito do Italo pela história de vida, pelo jeito que ele lida com as coisas. Me inspira a confiança, a energia positiva. Como naquele campeonato em que ele chegou faltando 15 minutos para terminar a bateria, acreditou que era possível e venceu.
Também me inspiro muito no Filipe Toledo. Ele tem um surfe de borda incrível, acho bonito de ver. É uma pessoa que eu gosto de assistir antes de surfar, até por ser da mesma base que eu (regular).
E no feminino?
No feminino eu gosto bastante da Tyler Wright. O surfe dela é bem agressivo. Acho o estilo da Stephanie Gilmore lindo, por exemplo. Mas a Tyler não tem medo, vem a junção e ela dá! Acho que por ter crescido surfando entre irmãos homens ela adquiriu um surfe bem power.
Você já foi várias vezes para a Califórnia (EUA). O que isso acrescenta na sua bagagem como atleta?
Por ter uma parte da família que mora lá, eu vou quase todo ano. Acrescenta demais no meu surfe, por ter ondas diferentes. Surfei na piscina de ondas e foi uma experiência muito boa. Pude treinar várias vezes a mesma manobra.
Além disso, tenho vários amigos na Califórnia e é bom estar ali vendo o nível das meninas. Me inspira e me ajuda a melhorar. Em Trestles, surfo ao lado de atletas do CT, como a Caroline Marks, ou alguma campeã mundial Pro Junior. Estar lá eleva bastante o meu nível.
E como você enxerga as meninas da nova geração no Brasil hoje?
O surfe competitivo feminino no Brasil vem crescendo muito. Hoje em dia a gente tem uma categoria de base muito forte. Antigamente a gente via um nível inferior das nossas meninas em relação ao cenário lá de fora, até pela questão de falta de oportunidades. Mas isso está mudando.
O surfe feminino está sendo bem valorizado nas competições?
Está começando a ser mais bem valorizado. Já tem alguns campeonatos que igualaram o valor da premiação. Ainda não está 100% igual ao masculino, mas a gente ainda chega lá, estamos no caminho certo.
O que falta para o Brasil ter mais mulheres representando o País no CT?
Tem muitos talentos pelo Brasil que não têm o reconhecimento necessário. Tem umas meninas que quebram, dão até aéreo, pelo Brasil inteiro. Elas têm muito de surfe e potencial, mas às vezes vivem em condições precárias e não conseguem um apoio, um reconhecimento para serem vistas. Acho que falta mais iniciativa das marcas em chegar junto, porque elas iriam muito mais longe se tivessem esse suporte.
O que você acha que as nossas categorias de base têm a evoluir em comparação a países como Austrália e Estados Unidos?
As meninas de lá têm mais oportunidades. Elas têm várias ondas e acabam viajando mais também. Fora as marcas, que investem de verdade. Mas em questão de talento, no meu ponto de vista, o que a gente tem no Brasil é ainda maior. Acho que se as nossas surfistas tivessem as mesma oportunidades, estaríamos no mesmo nível delas ou ainda melhor. Isso já acontece no CT, mas também iria rolar nas categorias de base.
Conta como foi surfar a piscina ondas!
Foi uma experiência muito legal. No primeiro dia tive dificuldade, a água doce interfere no fundo da prancha. Usei uma de Epox, funcionou melhor. Demorei um pouco para pegar o tempo da onda. E é bem raso, se você cair errado, machuca! Fora isso, depois da adaptação, fica muito legal. Uma experiência em que você pode treinar a mesma manobra várias vezes. Qualquer um que surfe lá vai evoluir muito.
E qual a sua próxima viagem?
Estou há um tempo sem viajar com o meu pai e o meu irmão, porque estava competindo muito. Geralmente vou somente com o meu coach e a equipe. Mas estamos planejando ir para o México em maio e vou aproveitar para fazer a pré-temporada lá antes de as competições retornarem. Viajar com os amigos é legal, mas sinto falta daquela vibe em família.
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Boa viagem, Mariana! Para encerrar, qual é notícia sobre a sua carreira você sonha em um dia ler no Waves?
Meu maior sonho é representar o Brasil, ainda mais pelo fato de a gente não ter nenhuma campeã mundial brasileira! Então o peso de estar ali e ter essa chance de levar o país ao topo é o meu maior sonho.
Quando fui para o ISA, tive esse gostinho de representar o Brasil e me senti muito bem de estar nessa posição. De carregar a bandeira junto com a nossa equipe, sentindo orgulho de estar fazendo o que você gosta pelo seu país.
Foi uma das melhores sensações que eu tive e é isso que eu quero continuar fazendo!
Acompanha a surfista em seu Instagram, @mariana.areno.
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